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Individual Juliana Freire

CASA DO OLHAR LUIZ SACILOTTO

SANTO ANDRÉ | SÃO PAULO 

De 30 de março a 11 de maio de 2019

Performance Corpo Monumento - Carolina Amres, Paulo Barcellos, Luiz Duva e Juliana Freire + Público. 

Registro de Daniel Athayde

Release -

A Casa do Olhar Luis Sacilotto em Santo André apresenta do dia 30 de março a 11 de maio de 2019 a exposição individual da artista visual Juliana Freire. Em seu trabalho recente, Juliana faz uso de uma linguagem híbrida, do desenho e fotografia à performance, buscando aproximar suas obras e instalações da vivência transtemporal e transespacial experienciadas através de projeção e comunicação interdimensional. ‘Ativismo Cósmico’ ou #cosmicativism é um hashtag que a artista utiliza para dialogar com o momento atual, onde o engajamento se concentra no cyber-espaço e tende à polos arquetípicos fixos.

Ativar espectros intermediários de relacionamento com o mundo - ou os mundos - são os primeiros experimentos da prática tanto individual quanto coletiva da artista. Os desenhos e pinturas narram uma jornada meditativa, já as performances, fotografias e ações, traduzem o momento de perda de controle e encontro com o “Mistério”. Os primeiros desmembramentos deste trajeto são Topologia de Mistérios, Expedição Akashica e Corpo Monumento - laboratórios de imersão e observação da sincronicidade, em colaboração com outros artistas, lugares ou pesquisadores. DERIVA VIVA é a reunião de alguns destes pontos de partida e chegada nessa segunda mostra individual da artista.

No dia 13 de abril, o público é convidado a participar da performance “Corpo Monumento” por Juliana Freire, Luiz Duva, Carolina Amares e Paulo Barcellos, utilizando máscaras de tecido como dispositivos "transculturais"  para instaurar em conjunto sentimentos e signos transitórios - ‘deriva viva’.

 

Sobre a artista - Juliana Freire, Belo Horizonte, 1977. Mineira residente em São Paulo desde 2002, Juliana atuou profissionalmente como ilustradora, galerista, estilista, designer, professora e desde 2017, volta-se exclusivamente à sua produção autoral e à produção cultural voltada para questões sociais, ambientais e espirituais. Promove uma vivência de ateliê colaborativo que expande o espaço fixo, estudos no formato Expedição (como no Parque Nacional do Xingu, em aparelhos culturais desocupados ou em espaços não tradicionalmente destinados à expressão artística). Participou de mostras em galerias e instituições como Baró Cruz, Emma Thomas, Mezanino (SP), Palácio das Artes (BH), Centro Cultural da UFMG, Prêmio Porto Seguro de Fotografia (SP), além de ateliês e coletivos independentes.

www.julianafreire.com | Instagram @jufreire e @ativismocosmico

 

Sobre os performers -

Luiz Duva é artista visual, videoartista, pesquisador e performer de práticas sonoras e visuais que entendem o som e a luz como um portal para o autoconhecimento e reequilíbrio do ser humano.

 

Paulo Barcellos é ator, diretor e educador de teatro. Co-fundou em 1987 e trabalhou durante dez anos com o Armazém Cia. de Teatro. Participou no Ágora CDT entre 2000 a 2004, de vários núcleos de estudo e de montagens sob supervisão dos artistas Roberto Lage e Celso Frateschi. Fundou o Coletivo Bruto em 2007.

Carolina Amares, Niterói, 1984, é artista, bailarina e produtora cultural. Formou-se pela Escola Estadual de Danças Maria Olenewa (Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro), em 2004. Dançou nas companhias: Grupo Corpo [2010 a 2014], São Paulo Cia de Dança [2008 e 2009], Cia de Dança Deborah Colker [2005 a 2008] e DeAnima Ballet Contemporâneo [2004 e 2005]. Em 2017, atuou como bailarina no projeto Biennale College for Choreographers, da Fondazione La Biennale di Venezia. Desde 2015, produz o projeto Gaga no Brasil (linguagem de movimento do coreógrafo Ohad Naharin) e o projeto Philipina Cultura.

Registro da Performance por Daniel Athayde: Nascido em São Paulo no ano de 1979, fez o curso de cinema na FAAP em são paulo e logo após o curso de BFA com especialização em fotografia na Emily Carr University Vancouver, Canada, e
pôs graduação no curso de poética fotográfica na FAAP. Participou de exposições coletivas como o Premio Brasil, antigo Premio Porto Seguro, e salões de arte contemporânea como da Praia Grande, Ribeirão Preto entre outros.

Os registros da exposição foram feitos pelo fotógrafo Luís Bahú.

 

Sobre a crítica de arte: Lídia Souza. (1960) Nasceu em São Sebastião da Boa Vista/Arquipélago de Marajó/Pará/Brasil. Mestra em Artes, pela UFPA (2012), com trabalho orientado para a crítica de arte. Pesquisadora, curadora independente (desde 1996) e designer de montagem/expografia (desde 2001). Ativista e articuladora de políticas culturais, com atuações voltadas para organizações da sociedade civil (desde 2009). Consultora de Planejamento e Gestão Cultural (desde 2004). Contribui para o desenvolvimento das ciências da Arte, para a criação de novos negócios culturais e acompanha pesquisas e processos criativos de artistas, coletivos e grupos de criadores artísticos (desde 1988). Vive e trabalha entre Porto Alegre - RS e Belém – PA nos ambientes da Economia da Cultura, Linguagens e Contextos, Design, Produção, Planejamento e Gestão de Processos e Produtos Culturais (desde 2012).

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A poética  da autodevoração ou a (im)potência da fantasia

 

 

Sou um fazedor de palavras:

Que importância dou às palavras?

Que importância dou a mim?

 

Friedrich Nietzsche

 

O sol da imaginação aquece o pensamento e a dura crosta que te conteve se esvai. Não há solo seguro. Só arte! O caminho que fazes é como um pisar caliente, que deixa pegadas passageiras ao toque do vento. Nada vês. Só deserto! Prepara-te para o banquete de cenas insólitas. Nele um corpo. Um corpo curvado sobre os dedos e a linha, dentre mãos velozes, a firmar vagos pontos. Preparas máscaras. Dias a fio, passam a ser horas. Tarde das noites viram manhãs. Borbulham na mente protopoéticas, que escapam em faturas e materializam o impensado. Preparas teu corpo; sabendo que ele, posto que é transição, nunca vai estar pronto.

As linhas do coração não são contínuas e elas levarão a um constante “por conta própria”. É chegado o momento da mais completa das irresponsabilidades. Desabilitar a carga, da culpa. Esvaziar o corpo, suporte da escrita poética, compósito de mediações simbólicas, condição operativa para transformação dos olhares sobre si, em “Anamorfose”, sedução defensiva presentificada pela fantasia, ao vislumbre do pensamento-corpo, à procura de tempo para resolução de suas opacidades; é pelo processo de autonegação que ocorre a liberação do fluxo simbólico.

O olhar de artista aponta para a relação arte/vida. E se o olhar aponta um horizonte a máscara o torna insólito. Você me olha e eu olho o horizonte, mas o horizonte não me vê, nem você me vê, pois não sou aquilo que pareço. Tampouco seria se de outro modo essa metabólise cultural que a máscara me imprime desvanecesse. Eu que sou você imputo-me a estética do ocultamento do rosto, como afirmação da desidentidade; um “preciso desaparecer”, para desvelamento da livre-afirmação do impulso poético; nele há heterogênese de corpo-pensamento, o qual se funde à multiplicidade implícita na identidade coletiva, em permanentes contaminações.

A decisão de invocar os desejos de arte, de deixar para trás as certezas que todos esperam, de borrar a alegria cardíaca do futuro azarão é um fazer fazendo-se que mascara pontos nervosos alhures. A caixa de Pandora, o bolso, a sacola, a bolsa... Da bolsa saem borboletas-máscaras, que voam para mãos vorazes em descobrir sentido. Nas invenções “obsoletas”, na troca de afetos, nas apropriações, não há delito. Só liberdade! O melhor da arte é mesmo não se ocupar de nenhum utilitarismo, de nenhum fazer sentido, de só e simplesmente obscurecer, de tornar irreconhecível o já tantas vezes repetido. Olhares, encontros, quase-acontecimentos, nada previsto, derivas...

Aquela que tem cabelos negros, a filha de Júpiter, inventa cosmogonias extraterrestres; ludicidades não reconhecíveis a certa distância; anamorfismos que precisam de lentes especiais para serem legíveis. Esta que não pode jamais pensar em fazer tudo certo. Afinal, rebeldes não costuram perfeitamente, não desenham com exatidão, não fazem para que haja compreensão, mas fornicam com a poesia e dançam com as Mênades, em selvagem concordância com as forças primitivas, da natureza obscura de todos nós. Ocupai, ocupai o corpo performático, em verdadeira comunhão, posto que o agora nos recobre de ilusão.  

 

Porto Alegre, 06/07/2018

Lídia Souza

Pesquisadora e Crítica de Arte

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The poetry of self-ingestion or the (im)potency of fantasy

 

 

I am a maker of words:

What importance do I give to the words?

What importance do I give to myself?

Friedrich Nietzsche

 

The sun of the imagination warms thoughts and the hard cover enveloping you melts away. There is no safe ground. Only art! The path that you travel is like a hot step, that leaves passing footprints to the touch of the wind. You see nothing. Only desert! Get ready for a banquet of uncommon scenes. With a body being served. A body doubled over its fingers, with swift hands marking vague points of its outline. Prepare masks. Days on end turn into hours. Late nights become mornings. Proto-poems simmer in your mind, escaping as bills and materializing the thoughtless. Prepare your body; knowing that although it is a transition, it will never be ready.

The lines of the heart are not continuous and they will lead to a constant "it's on you." The time has come for the most complete of irresponsibilities. Disabling burden from guilt. Emptying your body, the media of poetic writing, a composite of symbolic mediations, an operating condition to transform how others see you, in "Anamorphosis," a defensive seduction gifted by fantasy, to the glimmer of the body-thought, seeking time to resolve its opacities; it is through the process of self-denial that the symbolic flow is released.

The artist's gaze is aimed at the art/life relationship. And if the artist's gaze is aimed at a horizon, the mask makes it uncommon. You look at me and I look at the horizon, but the horizon does not see me, nor do you see me, since I am not as I appear. Nor would it be the case if this cultural metabolysis that the mask impresses upon me were to otherwise fade. I who am you, charging myself with the face-hiding aesthetic, as an affirmation of dis-identity; an "I need to disappear," in order to unveil the free-affirmation of the poetic impulse; in it there is heterogenesis of body-thought, which merges with the multiplicity implicit in the collective identity, in permanent contaminations.

The decision to invoke the desires of art, to leave behind the certainties we all await, to erase the cardiac allergy of the unlucky future is task whose doing masks nervous points elsewhere. Pandora's box, the pocket, the bag, the purse… Butterfly-masks fly out of the purse, soaring into hands that are voracious to discover meaning. There is no crime in "obsolete" inventions, in the exchange of affections, in appropriations. Only freedom! The best of art is really not being occupied with any utilitarianism, with no sense-making, to only and simply obscure, to make unrecognizable what has so oft been repeated. Looks, meetings, near-occurrences, nothing planned, drifting…

The one with black hair, Jupiter's daughter, inventing otherworldly cosmogonies; playthings that are unrecognizable at some distance; anamorphisms that require special lenses to be legible. This one which may never think of doing everything right. After all, rebels do not sew perfectly, they do not draw precisely, they do not make it so that there is understanding, but they fornicate with poetry and dance with the Maenads, in savage agreement with the primitive forces of the obscure nature in all of us. Occupy, occupy the perfomative body, in true communion, since the present covers us in illusion.  

 

Porto Alegre, 06/07/2018

Lídia Souza

Researcher and Art Critic

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