topologia de mistérios
A ação performática com máscaras da artista Juliana Freire, tem como essência ativar significantes/forma e significados/conteúdo através do acionamento do 'mistério'. A deriva individual ou coletiva com o 'aparato' (máscara ou envolucro), como uma experiência topológica de narrativas sensíveis.
A máscara (dispositivo) vivenviada tanto como gatilho ritualístico/ancestral, quanto como provocação simbólico/social. Pensar-se como uma ‘obra de arte em movimento’. As máscaras são utilizadas como dispositivos de conectividade para emergir no grupo memórias 'dormentes' (físicas, emocionais, energéticas e mentais) e novos trânsitos (fluxos) de possibilidades criativas.
Através do entrelaçamento de sensações entre o corpo e a máscara, inicia-se o processo coletivo de cocriação na ação. No decorrer do ato, Juliana e artistas colaboradores instigam os participantes a se observarem como um 'Corpo Monumento'. As ações são quase sempre expontâneas _ sendo tanto o convite à performance, quanto a máscara confeccionada _ apenas gatilhos para um convívio não usual. Passagens ou paisagens de desconforto, regozijo, eroticidade, animosidade, plasticidade... cada grupo e lugar, algo surge e sugere.
A artista começa a consturar as máscaras em 2017. Foram confeccionadas e distribuídas mais de duas centenas de peças. Cada máscara única, metáfora da multidão que somos, os infinitos 'eu, nós' _ o quanto é possíver se reconhecer no outro ou no mundo, desdobrando-se para dentro ou para fora do corpo. A dança entre os gêmeos 'Endo' e 'Exo'.
Após quase uma década de performances e fotoperformances, em contextos casuais (como expedições e errâncias), ou em espaços intencionais (como exposições e ambientes artísticos), a subtração do rosto que antes se apresentava como uma semente indissociável da ação, transborda. Ícaro Vidal utilizando o seu dispositivo, trouxe a importância deste gesto.
A desrostificação foi o fenômeno que re-impulsionou o trabalho. Isso, aliado à tentativa de também neutralizar o corpo, nas ações recentes com papel alumínio ou palha de licuri. Um ano antes da pandemia a artista já havia parado de confeccionar máscaras, para observação e análise do processo. Em janeiro de 2020, as próprias máscaras já confeccionadas não queriam um rosto (a artista andava sempre portando máscaras em sua bolsa, caso algo ou alguém sugerisse o uso). O objeto máscara se transformou em um ítem essencial de saúde e proteção em março de 2025, portanto foi abandonado temporariamente como investigação artística. O interesse em outros tipos de máscara, como a industrial de soldagem (proteção ao fogo ou calor) usada no filme 'Eldorado', habitaram o recurso estético do período pandêmico.
Durante o processo de análise, edição e finalização das obras, com frames das performances, o recurso de embaralhar ou apagar indetidades, de fragmentar o auto-retrato ou o retrato, foram fagulhas de ganho de consciência. A expansão deste percurso conta agora, com o imbricamento da subtração com a soma. Criar máscaras ou situações (como o papel alumínio) que desmontem e remontem a noção de 'rosto' ou 'corpo' como entidade fixa ou estável.
CAMADA do DISPOSITIVO & CAMADA da DESROSTIFICAÇÃO OU 'DESCORPOIDENTIFICAÇÃO'
A desrostificação (filosofia de Deleuze e Guattari) como questionador das construções sociais e culturais, permitindo a emergência de novas formas de expressão e subjetividade. Segundo os autores, a desrostificação é um processo que visa possibilitar que o indivíduo se torne algo mais, algo diferente, segundo os princípios: Desconstrução da Identidade: questionar e permitir maior flexibilidade e fluidez na forma como nos percebemos e nos apresentamos; Libertação da Expressão: a emergência de novas formas; Experimentação: novas possibilidades de ser e estar no mundo, se aventurar em territórios desconhecidos.
Nos anos pós-pandemia a pesquisa se desenvolveu na fotoperformance até o momento atual (setembro, 2025). O convite da artista e curadora Gisel Carriconde para nova ação coletiva com as máscaras no espaço Decurators em Brasília, DF, sobre Spectrophilia, novo livro de Hilan Bensusan _ potencializará uma nova expedição ao mistério. Talvez, sua fantasmagoria ou dimensão espectral.
Colaboradores : Nara Grossi, Yasna Yañez, Gisel Carriconde Azevedo, Roberto Maya, Feco Hamburger, Daniel Antônio, Mateus Lucena, Lana Chadwick, Luis Bahu, Paulo Barcellos, Luiz Duva, Carolina Amares, Amanda Mello da Mota, Daniel Athayde, entre outros.

interlúdio akashico
Registros da primeira performance em linguagem - fotonovela, inspirado na obra La Jetée, de Chris Marker.
Texto produzido para a obra - ‘o mundo das imagens e o mundo das projeções’ para 21 frames.
Interlúdio Akashico | Juliana Freire | Primeira Impressão | 330 cm de comprimento por 110 cm de largura ]
As ações aconteceram sucessivamente : - no ateliê Cordas em São Paulo; espaços públicos de Brasília - Memorial dos Povos Indígenas, - Museu Nacional Honestino Guimarães, - Teatro Nacional Cláudio Santoro e - Santuário Dom Bosco; durante a performance sonora de Phil Jones no espaço - DeCurators; - Serra do Roncador (MT); - expedição ao Alto Xingu.
Fragmento do texto:
O mundo das imagens é o mundo das projeções.
Ninguém chega neutro até uma imagem, sem trazer consigo até aquele momento,
Toda sua bagagem ancestral, biológica, física, cultural, social; pensamentos recentes e ocupações do dia.
Perante uma obra de arte, quem observa e quem é observado?
Quem verdadeiramente foi deslocado no espaço e atraído até aquele lugar ou instante?
O que a imagem vê em você? Por que ela te atraiu para lá?
E após certa deriva, observar-se observando e sendo observado pela obra ...
então coloque-se no papel da obra agora, por que ela vive e outras não?
Percebe a grandeza deste encontro?



















