colagens 2024/25
Enquanto o 3I/Atlas observa nossos genocídios,
tento encontrar sentido ou função para os vestígios, os papéis das gavetas
A vastidão e a imensidão da criação é algo que sempre me fascinou.
Desde cedo tenho contatos interdimensionais que me abriram para outras possibilidades de enxergar multi-realidades, multi-dimensões. A beleza das infinitas probabilidades e como a dança da co-criação, de nosso 'live-arbítrio' imbricado no que se chama 'destino', promove surpresas. Estas, se avaliadas entre 'boas' ou 'ruins', fazem parte de um arcabouço moral, dual, que só o antropocentrismo da cultura ocidental, judaica-cristã principalmente, sente.
Asteroides tocam os orbes das galáxias, como a areia da praia toca nossa pele ao vento.
O asteroide 2022 EB5 desintegrou-se sobre o mar da Noruega em 2022. Em 2013 houve um grande impacto na Rússia, em Chelyabinsk. Em 1908, na Sibéria. São apenas alguns da história recente. Para a Nasa os objetos que podem tocar eventualmente nosso solo, chamam-se NEOs (near-earth object). Há 4 bilhões de anos, a nossa ciência diz que um evento cataclísmico foi causado pelo impacto do asteroide Theia, formando a Lua. Na natureza não existe o julgamento de que isto seria 'mal', não são 2 movimentos, vida e morte, é 1 movimento vida-morte ou morte-vida. O que seria de nossas marés hoje, sem a Lua? Como seria a vida na Terra se Theia não viesse para estas bandas? Causa e efeito na perspectiva do 'pluriverso' _ não são maniqueistas.
Esta série começo a trabalhar no cotidiano do ateliê, com o intuito de esvaziar as gavetas, as caixas, começar a dar espaço para uma possível nova fase. O ecocídio e os genocídios demonstram que, com ou sem um impacto cataclísmico de um 'Neo', com ou sem uma interferência de seres de outros planetas, nós caminhamos para o fim de um ciclo, pelas nossas próprias escolhas coletivas.
Há muitas profecias e religiões que falam sobre o momento em que vivemos, não só sinais de desumanização mas também sinais na natureza ou no céu. Auroras boreais aproximando-se dos trópicos, alterações no magnetismo, visitas de objetos não identificados cada vez mais experienciadas em todo mundo, por pessoas de diferentes culturas e crenças.
Uma das teorias, que vem de filosofias, religiões antigas mas também de áreas da ciência, é que a vida se desenvolve em ciclos. Criação, manutenção, expansão, extinção, recomeço. Segundo Helena Blavatsky, estamos na transição entre a quinta e a 'sexta ronda', o planeta estaria programado para 7 'raças-raiz'. São hipóteses, cada pessoa escolherá à partir de seu sistema de crenças, as interpretações ou as narrativas que explicam o mistério da vida humana na Terra. Poucos esperavam pela pandemia de coronavírus, apesar de toda história documentar que pandemias acontecem de tempos em tempos. Como poucos convivem com a idéia de que não estamos sós no universo, apesar dos registros em toda história, antiga e atual.
Há expeculações de toda ordem sobre o objeto interestelar 3i/Atlas, a passear por nosso Sistema Solar. Antes dele, sabemos que passaram o Oumuamua e Borisov. Gosto da teoria de que é uma sonda ou nave tripulada, a observar este momento crítico que atravessamos, Kali Yuga na cosmologia hindu, a última das quatro eras cósmicas. Há outras teorias como a proliferada por J.J. Benitez, de que o asteroide Gog, deliberadamente mantido em segredo por militares e governos, pode chocar-se ou aproximar-se perigosamente da Terra em 2027. De tudo isto, de todas as possibilidades, o que mais me intriga é a forte idéia do homem de que ele é a única forma criada ou ser inteligente, como se as plantas não fossem, os animais, ou mesmo o desconhecido. Esta alienação ou escolha de isolamento, ignorando a nossa finitude, é uma das causas do uso perdulário dos recursos da Terra e dos recursos humanos, nossa energia, nosso tempo. Se não preservamos a Natureza, co-naturalizamos a morte da nossa espécie por consequência. Se ignoramos a importância de nossa própria 'casa' ou comunidade, quiçá refletiremos sobre outras comunidades, outras moradas celestiais no plano físico, não extrafísico ou metafísico.
A grande ironia é que um vírus ou um asteróide, não se importa com nossa desconexão ou mesmo, nossas diferenças raciais, sociais, de classe, de credo, de cultura. Importa para o que chamamos de 'humanidade', lutar ou agir para que não existam as diferenças ou, para que cada vez mais não sejam letais. O nosso isolamento na Via Láctea não é diferente do quanto nos isolamos das constelações de povos ao nosso redor e dos universos que cada pessoa é, ancestralidade, cosmovisão particular, virtude inata. Se ignoramos o macro, ignoramos o micro, vice-versa.
Neste exercício quase tolo às vezes de ser artista, me pergunto como agir perante estas elocubrações ou confabulações. Por que coloquei o nome da minha pesquisa de ativismo cosmico? Acredito que através da pesquisa, me conecto e dou subjetivamente meu testemunho de uma vida multidimensional, não só na multiplicidade deste mundo mas também para muito além dele, se é que existe 'além' _ nesta teia, rizoma, ou uma palavra que esteja no campo do Sagrado.
Apresento nesta série uma pesquisa formal, ajuntamentos ou agrupamentos que faço enquanto penso através destas perspectivas ou ouço, sussuros para a expansão de minha consciência. Estudos de cor, composição, textura e colagem _ a inter-relação das superfícies com uma pequena parte de meu acervo de folhetos que guardei, livros, fotografia, partes de processos não finalizados. É estranho quando transbordam obras que não estejam literalmente ligadas à reflexões profundas, mas não me deixo levar pela síndrome do impostor. É uma verdade para o meu corpo que mimetizou o pai e a mãe, sargento e bancária, sentados em mesas com cadernos, blocos, carimbos, grampeadores e clipes. Se busco um víes político, poderia falar do sentido ambiental, reaproveitar papéis, jornais, embalagens velhas, ítens de papelaria acessíveis, memórias já impressas.
Acho que 'a queda do céu', como dizem os Yanomamis, está impactando meu desejo de coerência. Nada faz sentido quando caminhamos juntos por etnocídios ou ecocídios sem manifestar inquietação. Silêncio, apatia, indiferença. O tecido social desconexo, descosturado. Milito e tento ser ativa nas redes que tenho acesso, tanto nesta quanto em outras dimensões, por isto o 'ativismo', do jogo de palavras que me dá um Sul (não um Norte). Neste entremeio, em negociações internas e externas, surgem estes pequenos conjuntos, não tão magnéticos quanto o maravilhamento da passagem de um objeto interestelar perto do Sol. São rascunhos ou ensaios do cotiano da artista com os recursos do entorno, na auto-observação do labor.


















