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P A N G E I A
quarentena, 2020
Um dia fomos impelidos a lembrar
que não somos separados
ou nós nos afundamos em um esquecimento tão profundo,
que o próprio despertar trouxe o rastro da Imemória.

Esta série que comecei na quarentena em papéis de livros e recursos ao alcance, chama-se 'Pangeia'.

Momento hipotético onde estávamos geograficamente unidos, no supercontinente único que teria existido até o período cretáceo, uns cem milhões de anos atrás. Como era esta conexão, esta Terra pré fragmentação? Como será nos próximos milhares de anos? Vulcões em erupção, a morte de ecossistemas, vírus e bactérias que perdem seus hospedeiros e encontram nosso corpo tão nu quanto nossos ancestrais indígenas, quanto a floresta, no caminhar desequilibrado com este 'todo'.

Nesta tentativa de costurar o homem à sua humanidade, em muitas passagens, o primeiro suporte destes desenhos/reflexões sobre interconectividade - são páginas de um catálogo da casa de leilões de arte de Berlim Hans W. Lange, de 1941. Este objeto fez uma viagem desconhecida até minhas mãos, na mudança de uma amiga. Morou um ano no meu porta-malas e quase desintegrou nos grandes alagamentos do começo do ano de 2020.

Observo com atenção as anotações à lápis ali. Segundo os artigos que li, foram roubadas mais de 5 milhões de obras de arte dos judeus, que abasteceram o mercado de arte legal e ilegal do período, um tema até hoje varrido para debaixo dos mudos tapetes. Muitos museus do mundo e coleções privadas poderiam se esforçar para pesquisar e devolver obras adquiridas no período às famílias perseguidas.

Então de um lado um massacre, e de outro 'o comércio não pode parar', quem diria que fragmentos travestidos deste horror pudessem ainda ter ecos no presente.

Esta cicatriz tão violenta e amarga da história mundial nos deixou aprendizados, o único legado positivo de uma barbárie.
Que esta pandemia não seja negada e nem esquecida - assim como qualquer mancha sombria de nossa expressão humana. Conhecimento traz sabedoria, sabedoria traz poder e poder usado no amor, é cura.

Talvez por isto eu tenha trazido aos dedos esta matéria orgânica que alguém em 1941 tocou - não sei quantos outros - para nela imprimir novos propósitos,

frequências mais sutis,
pinceladas gentis e dança circular
de linhas e bordados.

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