Olhe o Céu.
Em uma regressão durante um processo de cura, ela viajou para uma vida medieval, onde, desde criança, passava horas contemplando o céu.
Cumprindo as poucas tarefas que lhe eram destinadas, sempre retornava à sua paixão pelas nuvens, estrelas e fenômenos naturais. Seus familiares não compreendiam sua natureza e a enviaram para um convento, onde, não se adaptando ao cotidiano monástico, foi punida e confinada em um espaço escuro e sem janelas. Ela morreu jovem, de depressão.
Acredita-se que essa reverberação de passado ainda influencia seu fascínio pelo céu. Quando criança, ela gostava de passar noites ao ar livre, em fazendas ou campos abertos de Minas Gerais, observando o escuro do alto e esperando por algum sinal. Durante uma síndrome do pânico aos 33 anos, passou meses acordada, olhando o céu e perguntando: "Como se vive aqui, sem sofrimento?"
O caminho foi longo e elíptico, mas após mais de uma década (ou milhares de reencarnações) de busca e entrega, o céu hoje não só fala com ela, mas é parte dela.
Ela experimenta a conexão com uma enorme e infinita família, onde há diálogos entre mundos e coisas, orbes, e uma escuta aberta.
Ela acreditava que silenciar a mente e o coração era impossível, mas a vida a forçou a tentar. Estava sufocada e embrulhada no caos dos seus próprios atropelos e desventuras, desespero e dúvida. Descobriu neste longo caminho, que ainda trilha, que é justamente após esse 'silêncio' ou 'vazio', tão narrado e compartilhado por diferentes culturas e civilizações, que existe a sensação de fazer parte. Sentir ser uma fração da quintessência do amor, da abundância de possibilidades e probabilidades, e também do Mistério.
Depois de atravessar essa grossa camada, o Céu das suas próprias ilusões, ela começa a se ver como um reflexo do que deseja, e se reconhecer espectro da vastidão da vida, não idealizada, desnuda. A perfeição de ser imperfeita, produzindo caos, ordem e o que há de mais sagrado,
m o v i m e n t o.
A série de desenhos e as canalizações desenvolvidas durante a residência Terra Una, fazem parte de uma rotina de encontros interdimensionais.
Anotações ilustradas sobre desdobramentos, projeções astrais. Juliana Freire, Bocaina, Janeiro de 2024
Deserto é Nascente
14,2 cm x 20,2 cm
Papel de fichário antigo com números na aba superior,
lápis dermatográfico, guache e bordado
2024
